
A região Centro-Oeste tem sua história marcada pelo isolamento dos chamados centros culturais do país. Apesar de há 50 anos ter sido inaugurada a capital do Brasil no Planalto Central, o circuito de arte na região padece de isolamento vivenciando a falta de conhecimento de si mesmo e operando com precárias estruturas institucionais. A compreensão e a visão ampliada desta produção é uma tarefa que ainda necessita ser empreendida pelos aparelhos culturais públicos. O conhecimento que se tem da trajetória histórica e da produção atual ainda é bastante deficiente, e isto se reflete na ausência de políticas públicas e de ações institucionais que objetivem construir laços e relações culturais entre a diversidade do Centro-Oeste.
No contexto das artes plásticas as iniciativas ficaram restritas ao passado. Em 1979 a crítica matogrossense Aline Figueiredo publicou o único mapeamento da produção do Centro-Oeste existente até hoje. A influência deste levantamento desencadeou outras ações que atravessaram a década seguinte: Salão de Arte do Centro-Oeste, realizado em Goiânia em 1981; as edições da Mostra de Arte do Centro-Oeste – MARCO – e do Levante do Centro-Oeste, todos realizados em Brasília durante os anos 80. Mais recentemente, já nos anos 2000 o Festival de Bonito, realizado na cidade homônima do Mato Grosso do Sul, realizou as Mostras Brasil Central, mas com porte bastante pequeno. Fora desses projetos, que foram encerrados com algumas edições, formou-se uma grande lacuna, que implica na falta de interlocução entre as produções dos três Estados e do Distrito Federal.
O Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste, um evento de periodicidade bianual, tem o compromisso de ser um elo a conectar a cadeia produtiva do circuito artístico regional, formada por artistas emergentes e consagrados, por críticos, curadores, arte-educadores e público, tendo como foco o conhecimento, a exibição e a democratização da produção artística, respeitando a diversidade e as peculiaridades de cada localidade.
A reunião de artistas com trajetórias maduras no conjunto da exposição, formado na expressa maioria por artistas emergentes, permite à mostra revelar um pouco da trajetória histórica da arte contemporânea do Centro-Oeste, unindo elementos de temporalidades distintas, uma vez que os artistas convidados surgiram entre o final dos anos 1960 e meados dos anos 1980, e tornaram-se referenciais dentro de seus contextos, e também fora deles. O Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste é a situação laboratorial onde os diferentes campos de atividade no circuito de arte são colocados em interrelações e tem a oportunidade de exercitar, aprimorar, repassar e tornar público seus conhecimentos.
Carlos Sena Passos
Curador do 1º Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste
Fonte: Blog Centro Cultura UFG
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